Intervenção Renata Costa - 25 Abril

Antes de mais, permitam-me saudar todos os meus caros concidadãos neste belo dia da liberdade.

Diz-se que só se ama o que se vive. E os jovens do Portugal de hoje não viveram o 25 de Abril. Mas nem por isso são menos capazes de sentir, defender e lutar por esta Revolução, os seus ideais, as suas conquistas.

A juventude portuguesa é a juventude de Abril, activa e resistente, criativa e empenhada na construção de um país mais justo e desenvolvido em todas as vertentes da democracia semeada pelos construtores do Portugal libertado: política, económica, social e cultural. E, embora cada vez mais atacada, a juventude de hoje transporta o que de mais valioso existe nas gerações passadas.

Aqueles que minimizam o papel dos jovens, dos que estudam e dos que trabalham, fazem-no porque sabem que a juventude enquanto força social transporta um generoso contributo para a necessária ruptura com as políticas de direita que têm conduzido o país e o povo à miséria.

Somos filhos da revolução, filhos de Abril!

Quando hoje lutamos pelo direito ao trabalho com direitos, contra as injustiças, a precariedade e o desemprego, quando lutamos contra as propinas ou os cortes das bolsas, em defesa da escola pública, quando nos levantamos contras as medidas de austeridade impostas pela Troika, quando nos impomos à subjugação e defendemos a soberania, defendemos os valores de Abril!
País fora ouviu-se a Grândola cantada em luta; os jovens envolvem-se na vida democrática das suas escolas e cidades participando no movimento associativo estudantil, realizando reuniões gerais de alunos, fazendo parte de colectividades. Organizam-se e intervêm no movimento sindical. São parte activa na criação cultural.  
Por todo o lado, existe Abril. Mesmo quando a ofensiva é brutal, Abril existe na juventude!

Ao comemorarmos 41 anos em liberdade não podemos deixar de saudar todos aqueles que com o seu sacrifício, por vezes a morte, sob o jugo da repressão e perseguição, na prisão, na clandestinidade, deram o melhor das suas vidas e construíram as estradas que fizeram a LIBERDADE. Comunistas, meus camaradas de Partido, mas também democratas e patriotas. Estudantes, operários, assalariados agrícolas do Alentejo, camponeses, intelectuais. Povos que sofreram a então guerra colonial e lutaram pela independência. Mulheres e Homens. Todos aqueles que com a sua luta, com a sua intervenção, construíram as "portas que Abril abriu”.

Todo um povo que deve ser convocado à nossa memória, à nossa homenagem, e que constituiu o campo de lutas de onde floresceu a consciência dos militares que, organizados no Movimento das Forças Armadas, arrombaram e escancararam as portas da liberdade e da democracia.

Chegara a madrugada que esperávamos. Abril estava na rua, o posto de comando do Movimento das Forças Armadas devolvia ao povo a alegria usurpada, liberdades espezinhadas.

Abril foi, e é, a semente da esperança que desabrocha no cravo vermelho. Foi uma revolução onde os trabalhadores e o povo assumiram o seu papel de obreiros, materializando sonhos, aspirações e reivindicações, abrindo as portas de um país encarcerado ao mundo, libertando outros povos que também lutavam para se libertarem do jugo do colonialismo, pondo fim à guerra e propondo a paz e a cooperação entre os povos. Ousámos construir o sonho. Derrubámos monopólios, e erguemos nacionalizações, os sectores estratégicos da economia – sector financeiro, transportes e telecomunicações - foram colocados ao serviço do povo e do país. A terra a quem a trabalha passou a ser realidade, com a força dos operários agrícolas, levantamos a Reforma Agrária. Abolimos o medo e a repressão e conquistámos o direito à livre organização política e partidária, o direito de manifestação e de greve; o direito ao trabalho e os direitos no trabalho, o salário mínimo nacional foi uma realidade, assim como o direito a férias, construímos a segurança social, a protecção contra o despedimento; o direito à saúde passou a ser um direito inalienável de todos; o direito à criação e fruição culturais deixou de ser das elites; construímos a escola pública, a escola democrática já não era apenas para os filhos dos que mais tinham; as mulheres souberam o que era a igualdade na lei e na vida; e a juventude soube dizer futuro.

Com a força e a luta dos trabalhadores e do povo, os direitos conquistados nas ruas, fábricas e campos passaram a ser a lei fundamental do país: a constituição de 1976.

Mas a contra-revolução foi feroz.

Durante décadas, sucessivos Governos, exercendo o poder, executando a política de direita que dura há 39 anos, recuperaram e restauraram de novo o poder do grande capital, submetendo o poder político ao poder económico, rasgando ou engavetando compromissos assumidos com o povo e com a Constituição, com Abril. Ofensiva que nestes últimos 5 anos assumiu uma dimensão nunca vista com a política dos PECS do PS, e do Pacto de Agressão que PS, PSD e CDS firmaram com o FMI, União Europeia e BCE e que o actual governo executou com entusiasmante zelo.

Vivemos tempos de retrocesso civilizacional. Reconstituição dos monopólios e privatização de sectores estratégicos da economia. Mais desemprego, mais exploração e mais empobrecimento. Famílias que estão completamente desesperadas e desamparadas, porque não conseguem fazer face às suas necessidades, devido ao roubo nos salários e pensões, ao corte nas prestações sociais, ao aumento de preços de bens essenciais, ao aumento de impostos para quem vive do seu trabalho e às dificuldades acrescidas no acesso à saúde e à educação. Hoje empobrece-se a trabalhar, por via de uma política de baixos salários. O desemprego aumentou para níveis nunca atingidos desde o fascismo. Há mais de um milhão e duzentos mil trabalhadores em situação de desemprego. E em relação aos jovens trabalhadores, 34% estão desempregados.

Mas que país é este, onde o Governo nada tem a oferecer aos jovens, que não seja desemprego, precariedade e baixos salários? Que país é este, onde o Governo sugere aos jovens que emigrem e procurem uma oportunidade profissional noutros países? Que país é este, onde o Governo compromete o futuro e o desenvolvimento do país, e deixa para as gerações vindouras piores condições de vida?

É preciso retomar o caminho de Abril e cumprir os princípios consagrados na Constituição da República Portuguesa. Esta é a solução para os portugueses e o país. A alternativa existe, mas ela não está na continuidade da mesma política, mesmo com outras caras; está na rutura com esta política. Está na urgente renegociação da dívida, nomeadamente nos seus montantes, taxas e prazos, para libertar recursos públicos que possibilitem o investimento na produção nacional. Está em pôr o país a produzir e apostar na agricultura, na pesca e num programa de reindustrialização para reduzir a nossa dependência externa e criar emprego com direitos. Está em redistribuir a riqueza criada através da valorização dos salários e pensões. Está em apoiar as micro, pequenas e médias empresas e pôr fim às privatizações. Está em garantir o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, o apoio social, a habitação digna. Está em afirmar a nossa independência e soberania.

Para o PCP, partido da resistência e da luta antifascista, partido de Abril, se há coisas que aprendemos é que mesmo quando tudo parece ameaçado ou perdido, é pela luta, pela força do nosso ideal, com uma política de verdade pela confiança no povo português, com a convergência dos democratas e patriotas, que temos convicção inabalável que nada está perdido. É por isso que dia 6 de Junho sairemos à rua, levantando protestos e soluções, demonstrando que não desistimos, ontem como hoje, a luta e a realidade demonstram que, objectivamente é possível uma vida melhor num Portugal de progresso, livre e democrático, com uma política patriótica e de esquerda, uma democracia avançada inseparável dos valores que emanam desse acontecimento extraordinário que foi a Revolução de Abril que hoje celebramos.

Comemorar o 25 de Abril de 1974 é defender os direitos conquistados; Comemorar o 25 de Abril é combater a reescrita da história, a negação da existência do fascismo, as falsas atribuições do papel de cada um na revolução e na contra -revolução que se seguiu.

Mas Comemorar Abril não se faz um dia por ano.
Comemorar Abril é defender e aprofundar as suas conquistas económicas, sociais, culturais e políticas a cada dia.
Enquanto houver jovens conscientes e irreverentes, enquanto pulsar nos nossos corpos a justiça, a igualdade e a liberdade, enquanto nos levantarmos contra a opressão e a exploração haverá resistência, haverá sempre Abril!
E Abril é nosso! Que seja agora, queremos o que é nosso!

Viva o 25 de Abril!