Ovar nasceu e cresceu num ponto estratégico, como entreposto de mercadorias, vindas desde Coimbra, do Porto e, Douro acima, até Trás-os-Montes.
A Ria, principal meio fluvial de transportes, foi o elo de ligação e desenvolvimento.
Ovar tornou-se um importante centro comercial a partir da Idade Moderna, isto é, a partir do século XVI.
Com o desenvolvimento comercial vieram as indústrias. Primeiro a pesca com a “Arte Xávega”, (chegou a ter à volta de mil trabalhadores diretos e indiretos), depois as conservas pela salga e, mais tarde, as conservas enlatadas prontas a comer. A fábrica “Varina” chegou a ter trezentos trabalhadores durante a primeira guerra mundial.
Os produtos que aqui chegavam vindos do Sul - arroz, cereais, vinhos e sal – desenvolveram indústrias à volta deles. Descasque de arroz, inicialmente nos moinhos de água e depois em grandes fábricas a vapor. Grandes armazéns de vinhos onde o vinho era tratado, envasilhado e distribuído. Armazéns de sal, muitos, para guardar e para a distribuição do mesmo.
Para todo este movimento havia transportadores, almocreves, carroceiros e recoveiros.
A agricultura, aproveitando esta condição, desenvolveu-se na Ribeira, Marinha, Torrão do Lameiro e S. João. Cebolas na Ribeira e Marinha; cenouras e hortaliças no Torrão do Lameiro; nabos, feijão e outros legumes em S. João.
A vinda do comboio reduziu os transportes pela Ria, mas não fez esmorecer o comércio em Ovar. Com o comboio, vieram outras indústrias que, beneficiando dos transportes mais fáceis para as mercadorias, por cá se estabeleceram: Metalurgia, têxteis, moagem de trigo e outros cereais e a indústria de motores elétricos.
Ovar, hoje, encontra-se como o resto do País, perdido no meio da tempestade criada pela globalização, sem rumo e sem estratégia para o futuro.
As pescas extinguiram-se com o excesso de capturas para abastecer de conservas as duas grandes guerras. Das oito campanhas, em 1950 restava uma que, pouco depois viria a falir.
Os transportes de mercadorias passaram para a estrada. Ovar deixou de ser um entreposto de mercadorias.
Vieram as multinacionais, a partir dos anos sessenta, ligadas às indústrias elétricas e aos automóveis, empregando milhares de trabalhadores. Ovar viu crescer a sua população com a vinda de muitas pessoas, atraídas pelos empregos, que do Douro demandaram esta terra e por cá se integraram e ficaram.
Os ventos da globalização tudo varreram. As multinacionais sumiram, deixando no desemprego milhares de trabalhadores. As duas empresas que restam, que são as maiores empregadoras da freguesia, estão ligadas ao ramo automóvel e, mau grado, trabalham para outras multinacionais - Toyota, Peugeot-Citroen e Auto Europa – dependendo em exclusivo delas.
O comércio, outrora bandeira do nosso desenvolvimento, anda pelas ruas da amargura. As lojas, que ainda não estão fechadas, ostentam letreiros de “passa-se” ou “vende-se.”
As grandes superfícies comerciais que, com a promessa de criar emprego, vieram destruir a economia local, esmagando os preços e comprando noutros países destruíram os pequenos comerciantes e, também, os agricultores, que por não terem escoamento, abandonaram as terras.
Ovar tem, ainda em funcionamento, o Mercado Municipal, que vai dando escoamento a uma pequena agricultura de sobrevivência. O mercado do Furadouro está encerrado há vários anos, mais por falta de estratégia do pelouro responsável do que por falta de comerciantes.
As grandes superfícies são muito acarinhadas pelos poderes locais, em detrimento dos pequenos comerciantes. Por exemplo, atividades culturais das coletividades, ao abrigo dos protocolos com a Câmara, são feitas no Dolce Vita.
Ovar tem fortes potencialidades para a indústria do turismo; boas praias, uma Ria sossegada, mata abundante e uma excelente paisagem.
O Furadouro enfrenta grandes problemas com a falta de defesa da costa. O arranque da época balnear faz-se sempre sem as necessárias intervenções, tanto em regularização das areias, como em limpeza e arranjos do que o mar estragou durante o inverno. A praia dos Marretas, no Torrão do Lameiro, continua a ser uma praia não vigiada.
A Ria mete dó por falta de iniciativas. Entre o Carregal e as Quintas do Norte, uma distância de quase oito quilómetros, do lado poente, tem uma marina e uma praia fluvial com restaurante. Tudo o resto são ervas e lodo.
Das câmaras, que por cá têm governado, PS e PSD, nenhuma apresentou qualquer candidatura aos fundos comunitários para desenvolver alguma coisa na Ria.
O lado nascente, do Carregal para a Tijosa, o espaço vai, pouco a pouco, sendo apropriado por populares, que nele constroem, exercendo forte pressão sobre a área de reserva da água, o que exige a vigilância das autoridades.
A intervenção do eleito do PCP na Assembleia de Freguesia de Ovar tem sido focada na defesa da freguesia e denúncia dos problemas que enfrenta, tendo apresentado propostas para a sua resolução.
O êxito da missão deve-se às reuniões com os camaradas das comissões concelhia e de freguesia, que têm trazido os contributos necessários para o desenvolvimento do trabalho.
Por tudo quanto acabo de descrever, verifica-se que há muito trabalho por fazer.
Por muito boa vontade que se tenha, o Regimento da Assembleia de Freguesia só permite dez minutos de intervenção de três em três meses.
Até isto nos querem tirar com a nova lei autárquica e com a extinção das freguesias.
Ovar, 13 de outubro de 2012
Manuel Duarte