Manuel Duarte, deputado de freguesia do PCPNo meu deambular diário pelas ruas da nossa freguesia de Ovar vou notando, com alguma satisfação, que a preservação e limpeza das ruas e caminhos, da responsabilidade da Junta de Freguesia, se vai fazendo com regularidade.

Já no que diz respeito aos compromissos da Câmara, quanto a zonas verdes, a preocupação fica só no centro da cidade, Campos e Combatentes. Na Estação e em S. Miguel a situação é sofrível. A Habitovar, os Jardins d’Arruela e, até, as emblemáticas Margens do Caster estão ao abandono. A manutenção não anda por lá.

Também noto, no que diz respeito à cultura e, em especial, a Festa dos Talentos, que a Junta promove, que esta tem vindo a melhorar e a afirmar o empenho na promoção dos valores a que só as freguesias dão importância.

Mau grado, quando a ameaça de morte paira sobre tudo quanto é freguesia, rural ou urbana. A freguesia de Ovar não está imune a tal vírus.

O povo é que não vai por aí. Foi grande a manifestação de desagrado a esta Reforma Autárquica, onde o povo mostrou, na Avenida da Liberdade, que não quer perder o Poder Local, uma conquista de Abril.

A esses milhares de manifestantes aqui deixo uma grande saudação.

 

A nossa sociedade vai caminhando aceleradamente para a miséria. Há pessoas a rebuscar nos caixotes do lixo algo que se possa transformar em bens alimentares.

Cresce o pequeno furto, onde não escapam os bens públicos, tampas e grelhas do saneamento.

Centenas de pessoas procuram a Ria ou o Mar na esperança de pescarem um peixito com que mitigar a fome.

Queixam-se os pescadores da Majoeira da severidade com que as autoridades marítimas actuam.

Não é que não esteja na lei, só que em ocasiões de fome, o rigor torna-se tormento. Ter um ajudante na pesca dá multa por permitir maior captura, embora seja para dividir por dois. Tem de haver mais tolerância em tempos de fome.

Nalguns concelhos, nossos vizinhos, surgiram hortas de sobrevivência, impulsionadas pelo Poder Local, que põe terrenos, com infraestruturas, ao serviço os pobres. É uma caridade com outra dignidade. Ovar tem tanta terra abandonada.

Diz o povo que “um mal nunca vem só”. Já não nos bastava o desemprego, o fim dos subsídios, o trabalho precário e a miséria; vêm também os problemas no acesso aos cuidados de saúde.

O Hospital de Ovar, um dos mais antigos do país, começou a funcionar em 1814, numa altura de grande miséria, foi construído à custa da caridade e do imposto de um real em cada quartilho de vinho.

Passou para a Câmara em 1883 e para a Misericórdia em 1911. Funcionou no Colégio das Doroteias entre 1911 e 1965. Neste ano, entrou em funcionamento o novo hospital sub-regional, construído pela Misericórdia com o contributo do povo, com ofertas e donativos que foram recolhidos em diversos cortejos.

Em 1975 passou para o Ministério da Saúde como Hospital Regional.

Nos últimos anos, o Hospital tem vindo a ser desmantelado com a retirada de médicos e valências para hospitais de outros concelhos.

Nestes dias saíram mais médicos e valências. Em breve só restará o esqueleto, numa clara afronta a Ovar e ao seu povo. Até quando resistirá a passividade dos vareiros?

Pelo lado de quem governa é o ‘manda quem pode’.

Pobre sina a nossa, “miséria arrasta miséria” ou, como escreveu Camilo, “Asneira puxa asneira”.

 

Manuel Duarte

Deputado de Freguesia do PCP

Intervenção na Assembleia de Freguesia de Ovar

11 de abril de 2012