Imagens da marcha contra as portagens
Marcha Lenta: Portagens que irão «castigar população», PCP

Deputados do PCP juntaram-se às manifestações contra a introdução de portagens em três SCUTs do Norte e Centro que estão a decorrer na Avenida dos Aliados, Porto. Ilda Figueiredo, eurodeputada do PCP e autarca em Gaia, quis mostrar a sua «solidariedade com a luta», porque vive «de perto os dramas desta população».

A deputada afirmou que «só quem não vive aqui (Porto) é que pode pensar em castigar a população com mais portagens», acrescentando que «a mobilidade das pessoas para trabalhar exige que haja apoio e não sobrecarga».

Também Honório Novo quis participar de uma manifestação que considera «sui géneris» e que «envolve transversalmente a sociedade». Para o deputado do PCP «não existem alternativas às vias que querem portajar», além de o «per capita destas regiões ser inferior ao critério do governo».

«Se a isto associarmos a crise económica e social, torna impossível a vida das pessoas», frisou Honório Novo.

Diário Digital / Lusa

24-05-2008 17:48:42
Mil viaturas nos Aliados

Mais de mil veículos circularam na Avenida dos Aliados, no Porto, numa manifestação contra a introdução portagens nas três auto-estradas do Norte e Centro sem custos para o utilizador (Scut). Muitas outras viaturas foram alegadamente impedidas de entrar pela polícia.
Luísa Mateus

O protesto de utentes contra a intenção governamental de introduzir portagens nas três auto-estradas do Norte Litoral, Costa da Prata e Grande Porto sem custos para o utilizador (Scut) que ontem culminou na Avenida dos Aliados no Porto acabou por ser alvo de “boicote”, afirmou ao JANEIRO Ilda Figueiredo.

A eurodeputada do PCP manifestou a sua indignação, explicando que apesar da marcha lenta ter sido “autorizada, nos termos da legislação em vigor, várias foram a tentativas por parte da polícia em dificultar o protesto”.

Alguns milhares de veículos, entre automóveis, camiões e «motards» concentraram-se às 14h30 em Viana do Castelo, Esposende, Barcelos, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Santo Tirso, Matosinhos, Maia, Porto, Gaia, Lousada, Gondomar e Aveiro – sendo que cada uma das caravanas entrou no centro do Porto por uma via diferente – para participar na iniciativa promovida pelas diferentes comissões de utentes das três scuts do Norte e Centro que terminou na Avenida dos Aliados.

“Sabemos que houve ao longo do trajecto e há entrada da cidade muitos manifestantes que não conseguiram vir até aqui”, disse Ilda Figueiredo.

Contudo, Valdemar Madureira da Comissão de Utentes do Grande Porto mostrou-se muito satisfeito com a “significativa expressão” do protesto, assegurando que apesar das tentativas de bloqueio dos participantes, eram “mais de mil as viaturas” que circulavam nos Aliados.

O representante dos utentes do Grande Porto assegurou mesmo que apesar de “órgãos policiais terem afirmado que estariam a cumprir ordens para não deixarem entrar” os veículos na cidade do Porto, “a atitude de luta e de dizer não a esta política de degradação da vida dos portugueses vai continuar”.

Também Rui Sá, vereador da CDU na Câmara do Porto, considerou ser “completamente lamentável” que a marcha tenha sido limitada pela polícia, sublinhando, no entanto, que constituiu “mais uma medida que se insere naquelas que o Governo tem vindo a tomar e que objectivamente procura limitar as liberdades e esconder a dimensão dos protestos e a indignação das pessoas face as políticas que tem vindo a exercer”.

“Esta manifestação estava devidamente comunicada e era livre e portanto era legítimo que as pessoas manifestassem o seu descontentamento”, acrescentou.

Ainda assim, destacou o sucesso da iniciativa “num dia em que aumentam mais uma vez o preço dos combustíveis as pessoas vieram aqui afirmar aquilo que é a sua convicção de protestar contra o incumprimento de um promessa eleitoral de José Sócrates”.
À semelhança de Rui Sá, o deputado do PCP Honório Novo encontrava-se igualmente na marcha, pois como salientou na base do protesto está “o facto de o Governo ter quebrado uma promessa eleitoral, já que tinha prometido não introduzir portagens nas Scut”.

Paralelamente, lembrou que “os próprios critérios definidos para a introdução de portagens não estão contemplados e que nestas áreas não existem outras vias alternativas” às Scut.

Outras acções

Recorde-se que no passado dia 8, uma delegação com representantes de cada uma das comissões de utentes entregou um abaixo-assinado com mais de 60 mil assinaturas ao Governo.

A entrega de um total de 61 300 assinaturas – cuja recolha decorreu para além dos moldes tradicionais, através da disponibilização na Internet no site www.naoasportagensnasscuts.com. –, encerrou a primeira acção de luta designada por este movimento anti-portagens, tendo sido dois dias antes agendada esta marcha lenta até ao Baixa do Porto.

Nesse contexto quando questionado sobre se existem já em preparação novas formas de protesto contra o intuito do Governo de portajar as três scut, Valdemar Madureira revelou que “já para a semana acontecerá uma reunião para se fazer o balanço desta acção”, insistindo depois que “é certo que a luta irá prosseguir contra esta teimosia do Governo”.
Protesto mobilizou utentes que acusam o Governo de violar uma promessa eleitoral
Scut: Marcha lenta paralisou a Baixa do Porto
25.05.2008 - 08h32 Ângelo Teixeira Marques
Os membros das comissões de utentes das vias Scut (Sem Custos para o Utilizador) que ontem organizaram uma “marcha lenta” em direcção à Baixa do Porto (Avenida dos Aliados), qualificaram como um “sucesso”, o protesto contra a introdução de portagens nas concessões “Costa da Prata” (A29), “Grande Porto” (A41 e A42) e “Norte Litoral” (A28).

José Rui Ferreira, da Comissão de Utentes da Póvoa e de Vila do Conde, disse ao PÚBLICO que terão participado “mais de 1500 viaturas”, embora nem todas tenham conseguido chegar ao destino, pelo efeito “tampão” provocado pelo protesto que impediu o acesso dos mais atrasados. Mas também, acusaram vários dirigentes do PCP, pela “acção meticulosa” da polícia que terá tentado desmobilizar a manifestação, fazendo desvios de trânsito. Os comunistas fizeram saber aos jornalistas que vão, no parlamento, pedir explicações ao Governo sobre a actuação da PSP do Porto a qual desmentiu as acusações.

O trânsito ficou entupido na Avenida dos Aliados cerca das 17h30, apesar de àquela hora, segundo a organização ainda faltar chegar à caravana de Estarreja, de Esposende e parte de Viana que, segundo o que se ouvia pela colunas sonoras colocadas no centro da Avenida, tinham sido “retidos na A28 pela polícia”. Do palanque, Valdemar Madureira, da Comissão de Utentes de Matosinhos, vincava a dimensão do protesto e, perante duas centenas de condutores que tinham abandonado as viaturas nas vias da Avenida, mandava um recado para o executivo de José Sócrates: “O Governo pode ter a certeza que a luta não terminou. Devemos continuar até que o Governo faça sair da sua cabeça o propósito teimoso de introduzir portagens nas SCUT. E com a qual trai a promessa [que fez] antes das eleições”, afirmou. Ao que o PÚBLICO conseguiu apurar, as comissões de utentes vão reunir-se no próximo sábado para “fazer o balanço” da acção de ontem, mas também encontrar uma “forma de não deixar o protesto esmorecer”. “Temos que fazer algo ainda com mais força”, desabafava Fernando Almeida, de Viana do Castelo.

O PÚBLICO fez o trajecto até o Porto, a partir da Póvoa de Varzim, num camião de rebocar carros, na companhia de Sérgio Ferraz que, no protesto, era o elo de ligação entre os membros que chegariam mais cedo aos Aliados (partida de Matosinhos) e as marchas que utilizariam a A28 (Viana-Porto) com automobilistas de Viana, Barcelos, Esposende, Póvoa e Vila do Conde. Na Póvoa, à partida, a adesão esteve uns furos abaixo das expectativas e não fosse a presença de dois camiões de grande porte e o tamanho da “coluna” estaria longe do esperado. Sobretudo depois da participação “significativa” de poveiros no “abaixo-assinado”de protesto que foi entregue ao gabinete do Primeiro-Ministro. “Há muitos políticos que deveriam ter estado aqui ao lado das populações”, lamentava Sérgio Ferraz, membro da Assembleia de Freguesia, em representação do PCP, que prometia “arrasar com todos os partidos”, na próxima reunião do órgão autárquica.

Sentia-se também o desagrado da comissão pela desfeita causada por algumas empresas que prometeram mandar a sua frota para a estrada e depois não compareceram. Não foi o caso de duas firmas de produtos hortícolas que autorizaram os motoristas a pegar nos camiões e avançarem sobre o Porto. Um deles, César Nunes, está “a ver a vida a andar para trás” já que mora em Paredes e utiliza duas SCUT para chegar à Póvoa. “Se colocarem portagens, se calhar vou ter de mudar de emprego”, queixava-se junto a José Augusto Rodrigues, o condutor do outro pesado, que três vezes por dia faz a ligação da Póvoa ao Mercado Abastecedor do Porto. “Se chegarem as portagens, não tarda nada, aos 36 anos, estou no desemprego e com a crise que anda para aí, como vai ser a minha vida”, afirmava o condutor que fazia questão de realçar que a A28 “não tem alternativas decentes”.

A selecção das três Scut para introdução das portagens está atravessada na garganta de Jorge Machado, deputado do PCP, que sendo morador na Póvoa fez questão de arrancar da sua localidade. Para justificar a colocação de portagens, “o Governo argumenta com índices económicos que não correspondem à realidade – o concelho do Porto, por exemplo, entra nas contas quando não tem sequer uma Scut - o que vai penalizar ainda mais uma região onde o desemprego é enorme e as empresas atravessam uma crise medonha”, realçou o parlamentar comunista que também não descobre “alternativas” – outro dos critérios acenados para a escolha das vias – às actuais Scut.

“Eu não ligo nada a política, mas recordo-me do PS e dos sindicatos terem feito muito barulho quando foi a crise das portagens no tempo de Cavaco Silva. E agora, como estão? “, sustentava José Ferreira, o condutor do reboque que fazia um esforço para manter o carro nos legais 50 quilómetros por hora. Os quatro carros que seguiam à sua frente iam tão devagarinho e a ocupar as duas faixas que, por diversas vezes, verificaram-se ultrapassagens arrepiantes pela direita (fora da faixa) de automobilistas que não pertenciam à caravana, que podiam ter gerado acidentes.

A marcha ia lenta. Muito lenta. E “assim é que está bem”, dizia Sérgio Ferraz, agradado com a dimensão da fila de carros que se ia estendendo pela A28. Ninguém conseguia ultrapassar o magote saído da Póvoa e, até à entrada de Matosinhos, apenas apareceu em Lavra uma viatura da Brigada de Trânsito que, mais à frente, em Perafita, até mandou encostar um carro que tinha tentado, pela direita, chegar-se à frente.

À entrada de Matosinhos, a “escolta” passou a ser feita pela PSP, mas nem por isso a caravana ganhou velocidade. “A PSP até está a dar uma ajuda, assim o pessoal vai poder agrupar”, ironizava Sérgio Ferraz, que logo a seguir perdia o sorriso quando, via telemóvel, recebia a informação de que a polícia estava a impedir a entrada nos Aliados e a filtrar outras entradas.

O certo é que de uma forma ou de outra centenas de condutores conseguiram chegar aos Aliados para também fazerem o seu “buzinão”. Foi o caso de Alcides Silva, proprietário da “Carsiva”, uma empresa de Ponte de Lima, ligada ao comércio e distribuição de carne, que colocou no protesto a sua frota (15 camiões e 17 viaturas ligeiras) para tentar travar uma medida que, diz, pode levá-lo a ter de fechar as portas e despedir meia-centena de funcionários. O empresário alega que não poderá suportar os 30 mil euros mensais de custos de portagens, agravados com os sucessivos aumentos dos combustíveis.



* Versão integral do texto que saiu na edição em papel